realizado em 2010: RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO - BRASÍLIA
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O AGADÁ DA TRANSFORMAÇÃO 
Abdias Nascimento
Em meu peito vazio de despeito 
Oxum fincou o seu ixé 
sou o peixe mergulhado 
no canto do pássaro odidê 
pousado na folha da vida 
trinando a ternura 
que aconchega a criança
Ó peixe dourado que vais nadando 
os dias e as noites da minha sorte 
emblema de Oxum me levando 
águas de Oxalá me lavando 
no banho lustral da minha morte
Existo em minha natureza Ori 
levedado pelos Orixás 
embora o costado dos ancestrais 
clame 
a costa dos escravos 
proclame 
o cravo cravado no lombo 
me tombando no tombo 
da contra-costa rebelada do meu axé 
inflamando na chaga do congo 
a chama incendiária do quilombo
basta ouvir o som grave do rum 
o repicar do rumpi 
o picar agudo do lé 
e as irmãs negras portadoras do sofrimento 
os homens moldados nos crepes ancestrais 
em uníssono clamor 
de convulsivo furor 
desde a degradação e o opróbrio 
desfraldam a bandeira 
úmida do sangue negro derramado 
no combate vermelho sempre continuado 
pela integridade verde da herança nativa poluída
Somos a semente noturna do ritmo 
a consciência amarga da dor 
florescida aos toques anunciadores 
da perenidade das coisas vivas ORFEU_files/ESCRIBA%20ABDIAS%20ORFEU.pdf

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