Miúcha- release

 

Se João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes querem dizer alguma coisa no cenário musical, deve haver também um significado no fato de que, embora muitas cantoras brasileiras se orgulhem de ter partilhado o microfone com um ou com dois deles, só uma tenha cantado com os três: Miúcha.  ( RUY CASTRO)


Miúcha é carioca e foi criada  em São Paulo. Miúcha estudou História da Arte na Sorbonne em  Paris levando o violão na bagagem. Numa noite encontrou João Gilberto. Casaram-se e ficaram morando em Nova York, onde nasceu sua filha, Bebel Gilberto.

Gravou em 1975, seu primeiro CD "The Best of Two Worlds" , ao lado de João Gilberto e de Stan Getz .

Em seguida iniciou uma parceria musical com Tom Jobim, que se consolidou com o lançamento de "Miúcha e Antonio Carlos Jobim" (1977). Seu batismo de palco foi num espetáculo inesquecível, "Tom, Vinícius, Toquinho e Miúcha", que viajou pelo Brasil e para o exterior.

Depois, Miúcha e Tom Jobim, gravado em NY, contou mais uma vez com a presença de Chico Buarque e também de Claus Ogerman, um dos arranjadores prediletos do maestro.

Cercada de amigos queridos, Miúcha iniciou uma bela carreira solo, aprimorando sua arte nos palcos de todo o Brasil e de vários países no exterior. O jornal francês Le Monde assim definiu a cantora, por ocasião do lançamento de um de seus discos : "Voz quente, afinação exata, grande poder de comunicação”.

Sua naturalidade no palco passa a impressão de que está apenas brincando de cantar, de que sua platéia é toda composta de amigos íntimos.

Miúcha se joga por inteiro e explora cada canção em todas as suas nuances. Pertence a uma espécie de aristocracia da música popular – composta no Brasil pelas famílias Jobim, Caymmi, de Moraes, Gilberto e, sem dúvida, de Hollanda – E olhe que ela faz parte dessa aristocracia pelos dois lados: os Gilberto e os de Hollanda.


Coletânea junta Vinicius, Tom e João em volta de Miúcha
Cantora participou da seleção do disco que chamou de “um sonho”

por Beto Feitosa


Dentro de uma nova série que pega de carona as comemorações pelos 50 anos da bossa nova, a gravadora Sony & BMG fez uma compilação que Miúcha chamou de um “sonho”. O álbum junta a cantora a Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto. Em onze faixas a voz doce e colocada de Miúcha esbanja intimidade com os três mitos.

O álbum se chama simplesmente Miúcha com Vinicius, Tom e João. Foge do padrão pobre de coletâneas que diariamente são jogadas no mercado. A ótima seleção juntou o produtor Gil Lopes com a própria cantora, responsável também por escrever notas sobre cada uma das músicas.

Assim Miúcha abre recordações da gravação com o ex-marido João Gilberto e Stan Getz em Izaura (grafada com z no encarte e com s na nota). “Era tão nossa a Isaura que confesso que me espantei quando disseram que era do Herivelto Martins e Roberto Roberti!”, revela. Miúcha também traz detalhes das gravações dos três álbuns que dividiu com Tom Jobim na década de 70. “Esse disco foi uma delícia de fazer”, derrama-se sobre o primeiro da trilogia, do qual foi tirada a faixa Pela luz dos olhos teus samba de Vinicius transformado em valsa por Tom.

Com Vinicius de Moraes divide Minha namorada, faixa de um LP ao vivo gravado no Canecão. “Sem muita cancha de palco, eu ficava totalmente sem graça enquanto olhava bem de perto a cara do Vinicius, cantando cínica e apaixonadamente para mim enquanto me abraçava”, lembra. “Um dia a alça do vestido arrebentou. Segurei a tempo, apertando o braço contra o corpo, e achei que ninguém tivesse visto. Engano meu. Vinícius não só viu como resolveu curtir comigo, lançando seus olhares mais ternos enquanto dava umas puxadinhas no meu vestido por trás”, conta.

Além dos três grandes nomes que passam por duetos com Miúcha, pelo álbum de recordações ainda aparecem Stan Getz, Chico Buarque e Toquinho. Longe de se um encontro fechado, uma justa revisão que joga luz sobre o canto charmoso e irresistível de Miúcha. Se nem os mestres resistiram, quem ouvir vai se deliciar.

Imprensa
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